Família cobra explicações sobre abordagem policial de motoboy

Família cobra explicações sobre abordagem policial de motoboy

Foto: Reprodução

A morte do motoboy Márcio Campos Souza, 45 anos, que morreu no Hospital Universitário de Santa Maria (Husm) na manhã da última segunda-feira (8), tem causado comoção e revolta de familiares e amigos da vítima. Eles cobram explicações da Brigada Militar quanto à abordagem policial na noite de domingo (7), quando Souza teria sofrido um surto psicótico e precisou ser contido, inclusive com uso de arma de choque. 

Na manhã de terça-feira (9), colegas de profissão de Souza organizaram um protesto em diferentes pontos da cidade, passando em frente ao quartel da Brigada Militar e encerrando no Cemitério Ecumênico Municipal, onde Souza foi sepultado. Segundo a ocorrência, a Brigada foi chamada após Souza sofrer um surto na Rua Evangelista Marcos, no Bairro Nova Santa Marta, possivelmente devido ao uso de drogas, como um irmão da vítima relatou na ocorrência policial. 


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Ao chegar no local, os policiais o viram chutando um poste de luz e danificando a fiação. Os policiais deram voz de abordagem, que não foi obedecida, sendo então feito “uso moderado da força e algemas para contenção, bem como o disparo de spark (arma de choque), que não surtiu efeito no homem”. O motoboy precisou ser contido pelos policiais e colocado no chão, de bruços. Por estar sem camisa, vestindo apenas uma bermuda, sofreu lesões nas costas, braços, barriga, pernas e rosto, segundo a BM. Ainda conforme a Brigada, foi necessário o apoio de mais duas equipes para o atendimento da ocorrência. A abordagem foi filmada por moradores.

Após ter sido imobilizado e contido pelos policiais, o motoboy foi encaminhado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) ao Pronto Atendimento do Patronato, onde permaneceu em observação. No PA, o cunhado da vítima informou que ele estaria sob efeito de drogas desde o dia anterior e que fazia uso da droga k9. A substância é uma maconha sintética extremamente potente, sendo conhecida como droga “zumbi” devido aos efeitos psicóticos que provoca no usuário. Durante a madrugada de segunda, Souza foi transferido para o Hospital Universitário de Santa Maria (Husm), onde morreu por volta das 7h. No registro da morte feito pelo irmão da vítima na Polícia Civil, a informação é de que o motoboy teria morrido após ser internado “em surto, devido ao uso excessivo de drogas”. Contudo, outro familiar alega que a vítima teria morrido devido ao excesso da abordagem policial.

Márcio Campos Souza morreu na segunda-feira, horas após ser abordado pela Brigada Militar no Bairro Nova Santa Marta. Causa da morte consta como overdose de drogas.Foto: Arquivo Pessoal


Esclarecimento

Ainda na tarde de terça-feira, a Brigada Militar emitiu uma nota de esclarecimento informando que abriu inquérito policial para apurar os fatos e investigar o procedimento da equipe que atendeu a ocorrência na noite de domingo. Segundo o major Edimilso André Carvalho Pereira, que responde pelo comando do 1º Regimento de Polícia Montada (1º RPMnon), todo o efetivo é constantemente treinado para uso correto das técnicas de atuação policial e obediência aos preceitos éticos de seus servidores. Confira, abaixo, a nota na íntegra. A Polícia Civil abriu inquérito para investigar o caso e aguarda os exames de necropsia e toxicológico de Márcio Souza para saber o motivo da morte.

Mãe diz que viu o filho vivo pela última vez apenas dentro do PA

Rejane Souza afirma que filho era pai amoroso e trabalhador.Foto: Mateus Ferreira

A família do motoboy e uma testemunha que presenciou todo o ocorrido contestam a versão da Brigada Militar no boletim de ocorrência. Segundo o registro policial, Souza faleceu “após ter sido internado em surto, devido ao uso excessivo de drogas”. Mas uma testemunha que presenciou a abordagem policial diz que Souza morreu no local. 

– Uma viatura da Brigada abordou ele, mandaram ele abrir as pernas e levantar os braços. Ele fez isso, forçaram ele para abrir as pernas e ele caiu, então os policiais entre uns quatro ficaram encima dele, o Marcio sem camisa, com o rosto no chão e um policial com a perna encima dele. Ele ficou algemado, com os braços nas costas, sem reação e os policiais em cima dele – diz. 

Ainda segundo essa testemunha, a equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) teria examinado os sinais vitais do motoboy e dado a entender que ele não já estaria vivo: 

– O Márcio saiu morto daqui. Ele ficou com o rosto no chão por quase três minutos e tomou vários choques com uma arma que os policiais usam. Ele sofreu muito, não reagiu em nenhum momento.

A mãe do motoboy, Rejane Campos Souza, estava num culto em Silveira Martins e se deslocou até o PA do Patronato assim que soube do que aconteceu com o filho. Segundo ela, Souza estava intubado. Por volta da uma 1h de segunda, ele foi transferido para o Husm, onde foi internado na UTI. 

– E eu não vi mais ele. Fiquei preenchendo a ficha dele, e quando fui ver meu filho, ele estava morto. O Márcio era uma pessoa do bem, pai de família e trabalhador, cuidava das duas filhas e ajudava na casa. Era um pai amoroso, queria bem as pessoas, não merecia isso, morrer daquele jeito. Eu quero justiça, não aguento a morte do meu filho – desabafa Rejane, ainda muito abalada. 

Outro familiar, que preferiu não se identificar, diz que Souza teria chegado no Husm com um braço quebrado. A advogada da família da vítima, Marina Callegaro, que também é vereadora, diz que está analisando as primeiras provas para esclarecer tudo e buscar justiça. De acordo com a advogada, o esclarecimento dos fatos é necessário, não só para a família, mas para os amigos e para a sociedade de Santa Maria.




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Mateus Ferreira

mateus.ferreira@diariosm.com.br

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